A Psicossomática

A Psicossomática

Você sabia que o adoecimento fisiológico pode afetar uma pessoa também em sua psiquê (sua mente, suas emoções…), e o mesmo pode acontecer de forma inversa, um adoecimento psíquico pode afetar o fisiológico?

O adoecimento pode ser influenciado pelo contexto no qual ele vive (o familiar, o trabalho, o social, o cultural) e por sua condição pessoal (genética, comportamental), entre outros fatores, logo um adoecimento pode ser multifatorial.

A família, o trabalho, as outras redes de relacionamento, a cultura na qual está interido… a sua genética, o seu comportamento; todos eles podem ser considerados fatores que podem acumular gerando o adoecimento.

Segundo Mello Filho, em seu livro Concepção psicossomática: visão atual (2002), ao analisar diversos autores ao longo da história da medicina e psicologia, o indivíduo adoecido é afetado por inteiro.

O que é psicossomática?

Gustavo Gutierrez | pexels.com

E com isso chegamos ao conceito de Psicossomática, sendo “psico” a psiquê/mente e o “soma” com corpo.

O adoecimento que se inicia no psique e se manifesta no corpo, e também no sentido oposto começando no corpo e passando para a psiquê.

Parte da investigação sobre os adoecimentos psicossomáticos passa pelo questionamento sobre o sentido do adoecimento. Para C.G. Jung, pai da psicologia analítica, estes adoecimentos se manifestam como sinais de algo de origem no inconsciente e que, por não ser ouvido de outra forma, passou para corpo (somatizou).

Psiquê

A psique, ou também conhecida como mente, não se trata de um lugar físico em nossos corpos, mas se trada de um conceito abstrato desenvolvido a muitos anos.

“Quando a boca cala, o corpo adoece”.

Esta citação que já foi atribuída a Freud, é um ditado popular que de certa forma traz um fundo de verdade. Ela aborda o adoecimento físico partindo do psicológico, diferente do segundo caminho, apresentado anteriormente, para o adoecimento.

Como já comentamos em um outro artigo, um exemplo do adoecimento neste sentido é o que popularmente ficou conhecido como “úlcera emocional”, na qual existe um grande indício de que as tensões emocionais alteraram o funcionamento do corpo levando ao risco do adoecimento no corpo.

Com isso podemos pensar no que disse Granel (apud Filho, 2002):

A pessoa adoece com alguém, por alguém e para alguém. Perguntemo-nos sempre: que se propõe o paciente com este sintoma? quem é seu destinatário? em função de que situação foi criado?

Neste sentido, precisamos questionar, qual é o sentido destes sintomas, deste adoecimento que volta ainda que seja tratado. Por isso é preciso observar e avaliar o todo do paciente/cliente, e não só o sintoma ali, mas, ampliar a procura do sentido, como apresentou C.G. Jung.

Por exemplo
James-Alex Matthews, Infers Group | commons.wikimedia.org

Uma pessoa diagnosticada com hipertensão, ainda que medicada, pode ter momentos em que a sua pressão aumenta novamente, e isso pode indicar alguma alteração ambiental, ou de comportamento alimentar, ou um conjunto de fatores que levaram a sua pressão voltar a aumentar.

Situações de stress também podem provocar essa alteração, por isso cabe a observação do contexto.

Outro exemplo, uma pessoa com bruxismo, que é um transtorno em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes, principalmente durante o sono e que acontecem de modo involuntário. Ele pode ter causas associadas ao estilo de vida, além de possíveis fatores hereditários, segundo a BVS Saúde (Biblioteca Virtual em Saúde).

Nem sempre provoca sintomas, mas ela pode apresentar:

– desgastes dentários leves;
– trincas no esmalte dentário;
– sensibilidade nos músculos da mastigação;
– fraturas de dentes, raízes, restaurações, próteses, chegando até mesmo a fraturas de implantes;
– dores de cabeça e na face que muitas vezes se confundem com dores de ouvido, sinusites ou até mesmo como dores de dente;
– marcas na parte interna das bochechas e na língua;
– zumbido no ouvido;
– dores e estalos ao abrir e fechar a boca.

Biblioteca Virtual em Saúde | MINISTÉRIO DA SAÚDE

Os incômodos como a sensibilidade nos músculos, as dores de cabeça e na face, zumbidos no ouvido; em uma pessoa que já possui alguma dificuldade de lhe dar com situações adversas, dificuldades de resiliência; além de dificuldade de comunicar com as outras pessoas; podem provocar stress e por conseguinte afetar a sua interação com outras pessoas (agir de forma mais agressiva), e em outras atividades de trabalho…

E ao avaliar, boa parte da causa da mudança de comportamento foi devida ao “bruxismo” e as dificuldades de lhe dar com as situações adversas.

As partes que continuam a se integrar ao todo

Conforme já foi mencionado no artigo “Sobre o ser humano complexo“, nós adquirimos o costume de “dividirmos o ser humano” em várias partes para estuda-lo, compreendê-lo, e corremos o risco de, com essas divisões, nos esquecer que o ser humano não é apenas os fragmentos que nós fizemos.

O ser humano é um conjunto interligado de diversas funções, órgãos que se misturam para funcionar. E assim, o adoecer também pode afetar, não só o corpo, mas também a mente, pois somos inteiros, e não partes.

É claro que a magnitude de um acontecimento, de uma ferida ou adoecimento pode fazer com que outras partes sejam menos ou mais atingidas junto com a principal parte afetada, mas é preciso olhar o todo.

A partir do momento em que um adoecimento “ultrapassa” as dimensões entre o físico e o psíquico, o tratamento não pode ser apenas em um dos âmbitos afetados, mas no conjunto.

No exemplo do bruxismo deve ser feito o acompanhamento e a intervenção de um “dentista”, além do acompanhamento psicológico.

Logo, é preciso olhar também o todo. E quando um adoecimento se manifesta é preciso compreender a sua origem além do tratamento, pois assim pode evitar-se o seu retorno.

Você si identificou com algum ponto comentado aqui? Deseja conversar sobre o tema ou até procura atendimento psicológico? Entre em contato comigo.

Imagem de Capa: Natureza e silhueta humana de tiro médio | Freepik

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